Cidade(dis)sonante: Culturas sonoras em São Paulo (séculos XIX e XX)
José Geraldo
O início do século XX registrou uma inusitada metamorfose no horizonte sonoro contemporâneo. Nos grandes centros urbanos o regime de produção e recepção dos sons estava em transição para uma outra ordem associada a novas culturas e sensibilidades sonoras, sem que isso significasse demover completamente as antigas práticas ainda em uso. A cidade de São Paulo apareceu como um privilegiado laboratório de elaboração cultural deste incrível processo modernizador. O ritmo bem mais acelerado que o pequeno núcleo urbano paulista oitocentista viveu no início daquele século e a extraordinária miscelânea cultural que ali se estabeleceu, permitiram o aparecimento de um panorama sonoro e musical bastante fragmentado e de múltiplas características. Essa surpreendente dinâmica cultural em escala metropolitana movimentava as rumorosas ruas centrais da cidade, invadidas cotidianamente pelos gritos e algazarras dos trabalhadores de calçada e os sons de centenas de ambulantes e pregoeiros. Nelas os ruídos das máquinas modernas disputavam espaço com os relinchos, zurros, mugidos, latidos e cacarejos de centenas de animais. Muitas vezes as vias paulistanas eram ocupadas por dezenas de bandas com seus vibrantes “pa, pa, pa, pum” e “ta, ra, ta, tchim”, como identificou Mário de Andrade. O calendário fixo ou móvel das festas populares também colaborava com seus variados sotaques e estímulos sonoros. Somavam os rumores produzidos nos reluzentes cafés espelhados e nos ruidosos e boêmios caféscantantes. Os animados teatros e os movimentados salões musicais apresentavam todos os tipos de vozes, dicções e gêneros. As taciturnas igrejas católicas ainda mantinham ambiente para práticas musicais permanentes. Os tradicionais pianos e vozes já conviviam com outros tipos de instrumentos, principalmente os violões e os violonistas de várias características e formação. Toda essa incrível força sonora foi absorvida de diversos modos pelas nascentes indústria fonográfica e radiofônica, que de maneira estonteante captaram, registraram e difundiram esse universo para patamares ainda desconhecidos, mudando definitivamente as sensibilidades e culturas sonoras. Ocorre que a historiografia de modo geral e a da música de maneira especial, pouca importância deram a esse movimentado e ruidoso quadro. Este livro pretende justamente identificar e discutir alguns aspectos desta rica história da cultura sonora, especialmente da cidade de São Paulo, permitindo ao leitor penetrar e escutar um pouco desse passado.
APRESENTAÇÃO – Falar sem ver ou outros
(...) ouvir sem ver a gente
JOSÉ GERALDO VINCI DE MORAES
CAPÍTULO 1 – Drama musical em três atos. São Paulo no começo do século XX
JOSÉ GERALDO VINCI DE MORAES
CAPÍTULO 2 – O comércio fonográfico em São Paulo e os irmãos Figner
JULIANA PÉREZ GONZÁLEZ
CAPÍTULO 3 – Ouvirão a seguir ...: experiências de escuta nas primeiras décadas da radiofonia paulistana
GIULIANA SOUZA LIMA
CAPÍTULO 4 – Zoo-sonoridades urbanas. Os animais e seus sons na São Paulo ruidosa e musical (meados do século XIX às primeiras décadas do XX)
NELSON APROBATO FILHO
CAPÍTULO 5 – A música de André da Silva Gomes (1752-1844): memória, esquecimento e restauração
PAULO CASTAGNA
CAPÍTULO 6 – Uma Babel nos palcos: teatro musicado na cidade de São Paulo (1914-1934)
VIRGINIA DE ALMEIDA BESSA
CAPÍTULO 7 – Violão paulistano: repertório e práticas do início do século XX
FLAVIA PRANDO
CAPÍTULO 8 – Barbosinha, entre malocas, engraxates e Demônios
ANDRÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA SANTOS
ISBN: 978-65-86255-72-0
Formato: 16x23 cm
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Preço:R$ 67,00