Da memória e seus ‘‘caminhos secretos para entrar em nós’’ (ensaios sobre memória, esquecimento, história, historiografia)
Jacy Seixas
Os intercâmbios entre história e outros campos do saber e da sensibilidade, desafiadores e sempre incentivados, são ainda pouco praticados pelos historiadores da memória. Marcel Proust, logo no início de sua extensa obra, tece um comentário que desvela os pontos nevrálgicos que enunciam e diferenciam as várias teorias da memória, em seus "caminhos secretos para entrar em nós". Nós, historiadores, parecemos evitar as vias que não sejam já bem sinalizadas. As noções centrais e práticas de vetores historiográficos dominantes – historiografia francesa e história oral – que, de formas diversas, subsumem a memória e sua linguagem aos procedimentos historiográficos, cristalizaram-se de tal forma que passaram a prescindir dos debates teóricos que lhe antecederam e, precisamente, instituíram o campo minado em que se inscrevem e se movimentam as relações entre memória e mundo, entre memória e história, os dispositivos que as regem e conferem presença e vida à memória e aos atos de rememoração e de esquecimento. Ambas conferem à memória – suas expressões e práticas, materiais ou simbólicas – um lugar de história no sentido de ser reconhecida somente se acomodada, ainda que com desconforto, aos procedimentos histórico-historiográficos. A indagação que se impõe, e que esse livro busca discutir, é se a linguagem da memória e do esquecimento [ativa no mundo, nos indivíduos, grupos sociais e culturas] acomoda-se, e em que medida, aos dispositivos de produção do saber histórico, ou se extravasa, por inúmeras janelas, os edifícios metodológicos fixados. O desafio aqui foi abri-las e deixá-las o máximo possível abertas, interpelando-a e colocando algo simples para o historiador: a urgência de uma atenção maior às teorias da memória, construídas fora do seu domínio disciplinar, que os estudos históricos, instalados na falsa segurança de territórios demarcados, seguem ignorando ou desprezando.
SUMÁRIO:
Introdução
A história com manias de Funes, o memorioso .9
I. Linguagens da memória e escritas da história 1. Percursos de memórias em terras de história .19
2. Os espaços elásticos da memória – memória voluntária e memória involuntária .43
3. Os tempos da memória – a (des)continuidade. Instante e duração .59
4. A noção de memória social – o real e a memória dos sentimentos em Halbwachs .81
5. Memória e esquecimento – dicotomia ou ambivalência? .101
6. A memória (se) arquiva? – novos e antigos desafios historiográficos .119
7. Vozes de Tchernóbil – o tempo suspenso e a linguagem da memória .133
II. Esquecimento e cultura política brasileira [a propósito de uma imagem: o brasileiro jecamacunaímico]
8. Tênues fronteiras de memórias e esquecimentos – a imagem brasileiro jecamacunaímico .151
9. Formas identitárias, estereótipos, gestão do esquecimento .171
10. Dissimulação, mentira e esquecimento – formas da humilhação na cultura política brasileira .189
11. Brasil, país do futuro – políticas do esquecimento e imagens identitárias da denegação .207
Referências bibliográficas .231
ISBN: 978-65-86255-68-3
Formato: 16x23 cm
Paginas: 240
Preço:R$ 50,00